Há três meses, com requerimento de minha autoria, o Senado Federal realizou uma audiência pública para ouvir María Corina Machado, candidata da oposição à presidencia da Venezuela. Corina, que estava proibida de sair do país vizinho, participou da sessão por videoconferência e falou sobre a opressão que sofre no país, além de narrar as restrições a que estava sujeita. Corina não podia participar de atos públicos e sofria perseguição quando saía às ruas. Nesta semana, fomos pegos de surpresa por mais um golpe do autoritário Maduro: assessores de Corina foram presos, acusados de traição e conspiração contra o plebiscito.
Chefes de Estado de diversas nações se pronunciaram em relação às ações do tirano vizinho. Os Estados Unidos, em tom elevado, imediatamente manifestaram reprovação. Já o presidente Lula, que demonstrou ter relações muito próximas com Maduro, mais uma vez foi complacente. Econômico nas palavras, Lula disse apenas que é preciso construir a paz. Manifestação novamente inaceitável de um chefe de um governo que faz fronteira com a Venezuela e que assiste, em estado de inércia, aos desmandos de um ditador. Lembremos que o Brasil é um país que tem uma das maiores reservas de petróleo do mundo. Aceitar com ividade a tentativa de invasão à Guiana e a prisões ilegais de opositores à ditadura é ser conveniente com futuras – e possíveis – tentativas de ataques a instituições democráticas do Brasil. E se a moda pega?
Recordo ainda que a mesma dinâmica se vê na Bolívia. Há poucas semanas, o Senado aprovou uma proposta para adesão da Bolívia ao Mercosul. Fui inicialmente contrário porque o governo boliviano mantém presos políticos, como a ex-presidente Jeanine Anez Chavez e o ex-governador da província de Santa Cruz Fernando Camacho – ponto fundamental que fere a cláusula democrática e que proibiria a Bolívia de se tornar membro do Mercado Comum do Sul. Depois, em acordo, cedi com a condição de constituir comissão especial de senadores para visitar o país.
A realidade é que a paz na América do Sul está ameaçada e não podemos ser simples espectadores.