“- Você acha que é difícil anular as sentenças do Lula? – perguntou um mineiro para outro. 1s2264

- Não. É Fachin, Fachin – respondeu outro”.

Pois é. Sou desses que, diante de um evento que parece histórico, ainda que não seja, começa a fazer graça. Ao que parece não entra na minha cabeça a equação da Primeira Lei do Humor, segundo a qual “comédia = tragédia + tempo”. Ou vai ver eu tenho uma noção meio distorcida do tempo. Sei lá.

Logo em seguida, porém, comecei a vasculhar os rincões da mente à procura de fatos e dados e frases e ideias e praticamente qualquer coisa que me fizesse encontrar alguma lógica na situação. Mas minha busca foi interrompida pela versão de um pagodinho de 1993 que se impôs ameaçadoramente: escreve senão o Lula vai virar presidente. Obedeci e eis que:

“Toda vez que eu chego em casa

A Lava Jato quer me levar em cana.

E aí seu Zanin o que 'cê vai fazer?

Vou argumentar incompetência pra me defender

Ele vai dar uma fachinada na sentença dela

Ele vai dar uma fachinada na sentença dela”.

“Se duvidar, prendem o Moro” d3a53

Uma amiga que pela manhã tinha reclamado da monotonia do noticiário me mandou mensagem. Estou preocupada, disse. Tentei acalmá-la, mas não convenço ninguém. Em seguida, meu pai me ligou. E me partiu o coração dizendo que não vai viver para ver um Brasil melhor. Mal parei de chorar e foi a vez de atender minha mulher. “Não me vá fazer piada com o STF, hein?! Se te prendem, quem é que vai abrir o pote de palmito?!”, disse ela, não sei se brincando, advertindo, reclamando, aconselhando ou ameaçando. Melhor não arriscar.

Apaguei pateticamente as piadas das redes sociais e desliguei o computador. Coloquei o celular no mudo e, diante da perspectiva de ter de escolher entre Bolsonaro e Lula em 2022, achei por bem dar uma volta pelo bairro. Na portaria, encontrei Seu Valdir. Que nem sabia o que estava acontecendo. Cumprindo o que diz o Juramento do Jornalista, dei a ele as más novas.

- Anulou tudo? – perguntou ele. Fiz que sim com a cabeça. Ele parou um pouco, pensou e atestou: – Lula? Eu não voto!

Respirei aliviado e já fui apressando o o rumo à sorveteria quando Seu Valdir me chamou e disse:

- Se duvidar, prendem o Moro.

Comprei meu sorvete, que consumi ali perto mesmo, encostado num muro. ou um carro da Guarda Municipal e os policiais me olharam feio. Ou será que foi paranoia minha? Olhei para a esquerda e vi uma tempestade a caminho. Ri pensando que alguém vai ler isso e pensar que estou falando de política, mas é de chuva mesmo. No trajeto de volta para casa, decidi que o título deste texto tinha que conter o trocadilho “fachina”. Mas não me ocorreu nada na hora.