Opinião
Brasil: conheça-te a ti mesmo

Bancos Mehinako chamaram a atenção na última edição da SP-ARTE. | Divulgação
Escrevo esse artigo dia 19 de abril. E o que tem demais nesse dia? Para nós, brasileiros, deveria significar muito, pois trata-se do Dia do Índio. No decorrer dos últimos meses, algumas experiências me fizeram ir além no conhecimento de tão vasta cultura. Além do óbvio: penas, cocar e colares.
Para tanto, algumas experiências me marcaram. A primeira, a leitura do maravilhoso livro chamado “Grafismo indígena”, escrito por Lux Vidal. Livro que, infelizmente, é encontrado somente em sebos (alô, alô, editoras; onde estão?). O mesmo trata, como o próprio nome diz, sobre o grafismo indígena. Um primeiro o para o entendimento dessa sofisticada cultura, a qual infelizmente nossa sociedade (em geral) observa com preconceito. Ou, no mínimo, com uma visão restrita e folclórica.
O grafismo indígena trata-se do mais alto significado que uma linguagem gráfica pode ter. Deriva, muitas vezes, da natureza, dos animais e traz significados que representam manifestações simbólicas e estéticas para a compreensão da vida em sociedade.
É aplicado em diferentes superfícies: pedra, cerâmica, papel, o próprio corpo humano e é registrado desde o período pré-histórico, como em São Raimundo Nonato, na Serra da Capivara, registro de mais de doze mil anos atrás.
Você é um irador da Op arte, surgida nos anos 1960/1970? Sugiro que conheça as artes ancestrais indígenas.
Outra experiência foi conhecer um grande amigo, Mayawary, da tribo “Mehinako”. Tribo situada no Alto Xingu, e uma das mais isoladas da região amazônica, que preserva muito dos costumes e dos saberes ancestrais. Desde a culinária, na qual obviamente não entram ingredientes pasteurizados e é repleta de peixes do rio, até a arte ancestral dos bancos Mehinako, que, muito além de ter sido a grande sensação da última edição da SP Arte (evento prestigioso de arte ocorrido em São Paulo no mês de abril), fazem parte de acervo de colecionadores e museus mundo afora. Os bancos são esculpidos em tronco de árvores locais com saberes que remontam aos anteados da cultura Mehinako.
Hoje em dia, muito se fala sobre a “brasilidade” como elemento criativo. Um grande o para uma cultura que se inspirava nos ares do exterior. Porém, é necessária uma reflexão sobre se é possível falar de brasilidade e ancestralidade sem abordar a cultura indígena.
Vale lembrar que, diferentemente do que fomos condicionados a acreditar, de haver apenas uma minúscula população de índios nativos na chegada dos portugueses, havia, na verdade, três milhões de habitantes indígenas em todo o Brasil. Pouco">