Na sequência, o texto traz uma citação da deputada dinamarquesa Ida Auken, autora do trabalho que deu origem ao cenário: “Eu não possuo nada. Eu não tenho carro. Eu não tenho uma casa. Não tenho eletrodomésticos nem roupas”. O documento complementa que, segundo a análise de Auken, comprar coisas será uma lembrança distante para aqueles que viverem nos anos 2030. Segundo a autora, as pessoas descobrirão que, em vez de adquirir bens, será mais interessante e benéfico alugar ou pegar emprestado apenas o que for preciso, sob demanda.

Parece tudo muito lindo, visto de longe. Mas, para alguém que já leu o Manifesto do Partido Comunista, isso não cheira bem. Soa semelhante a uma tentativa de implementar o sonho último de Marx, a extinção da propriedade privada – mas com a bela narrativa de uma suposta vida em sintonia com o próximo e em comunhão com o meio ambiente. Veja que a autora do estudo não possui carro e casa próprias (até aí tudo bem), mas não possuir roupas é um detalhe importante, que levanta certos questionamentos. Primeiro: quem é a deputada dinamarquesa que escreveu o estudo?

Quando pesquisamos um pouco sobre a jornada política de Ida Auken, as coisas começam a fazer mais sentido. Sua carreira começou no Socialistisk Folkeparti, o Partido Popular Socialista. Por aí entendemos um pouco de suas motivações ideológicas. Os mais antenados poderiam argumentar que isso é coisa do ado, uma vez que hoje ela faz parte do Partido Social-Democrata dinamarquês. O detalhe é que sua atual legenda integra o Partido dos Socialistas Europeus, que inclui o Partido Socialista Francês e o Partido Socialista Operário Espanhol, ambos membros da Internacional Socialista. Deve ser por isso que ela sonha com um futuro em que ninguém seja dono de nada.

Respondida a primeira pergunta (quem é a pessoa que propôs a ideia), cabe responder a segunda: se ninguém terá nada, e tudo será alugado, alugaremos de quem? Ou melhor: quem será dono de tudo? No início, eu achava que os governos nacionais seriam os proprietários dos bens, e os cidadãos alugariam as coisas diretamente do Estado, por meio de sua CBDC, a moeda digital centralizada. Obviamente, em 2030, apenas os cidadãos com uma boa pontuação no crédito social - e estando em dia com seu aporte de imunização - teriam a liberação para alugar o que quer que seja.

Contudo, conforme minhas pesquisas foram avançando, hoje tenho um outro palpite sobre de quem a humanidade teria que alugar todas as coisas na próxima década, caso as previsões se cumpram. Uma matéria recente do Wall Street Journal abriu meus olhos para esse detalhe. O título, traduzido do inglês, é “Se você vender uma casa hoje em dia, o comprador pode ser um fundo de pensão”. O subtítulo traz a seguinte chamada: “Investidores em busca de rendimento estão abocanhando casas unifamiliares, competindo com americanos comuns e elevando os preços”. Ou seja, com a crise econômica gerada pela pandemia, os pequenos negócios, as terras agricultáveis e as residências estão sendo adquiridas por grandes conglomerados, fundos e grupos de investimento. É provavelmente deles que todos terão que alugar as coisas daqui a 10 anos. Pelo menos este é o sonho de Klaus Schwab, criador do Fórum Econômico Mundial (FEM), como ficou claro em seu livro Covid-19: The Great Reset.

Já escrevi um artigo mostrando como o FEM pretende utilizar a crise gerada pela pandemia como oportunidade para implementar seus planos de reestruturação de toda a ordem social vigente. Pode ser que esta seja a chance que eles estavam esperando desde quando imaginaram um mundo em que ninguém seria dono de nada e que as pessoas teriam que alugar tudo. Com a enorme transferência de riqueza iniciada desde o ano ado, da classe média para os bilionários, e a concentração dos bens e serviços nas mãos de poucos conglomerados, a profecia pode estar justamente sendo cumprida.

O que espanta não é a semelhança do que estamos vivendo com as ideias apresentadas por Klaus Schwab em seu livro, mas a afinidade com o Manifesto Comunista, que elencava dez os para a implementação do socialismo. A palavra mais utilizada na lista é “centralização”. Se Gary Allen estava certo na obra Política, Ideologia e Conspirações – quando afirmou que socialismo não é distribuição de renda e de poder, mas a concentração destes – estamos diante da mais eficiente materialização das propostas de Marx. E a humanidade não faz a mínima ideia do que está acontecendo...

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