O Ipec é um instituto criado por executivos egressos do finado Ibope, com a estatística e cientista política Márcia Cavallari à frente. Ele entrevistou 2.000 pessoas entre os dias 26 e 28 de agosto em 128 municípios, com margem de erro de 2 pontos. Quando colocamos uma lupa nos "clusters", ou agrupamentos de eleitores por cortes específicos, identificamos algumas variações leves e ainda longe de apontarem novas tendências.

Para o eleitor de baixa renda, alvo de sucessivas canetadas presidenciais que estouraram o teto e acabaram com qualquer resquício de âncora fiscal, na mais cara tentativa de reeleição da história do país, as mudanças são irrisórias. No levantamento anterior, 60% dos eleitores com renda até 1 salário mínimo diziam votar em Lula. Na pesquisa divulgada nesta segunda, o petista caiu para 54%. Considerando a estonteante montanha de dinheiro público gasta para seduzir o eleitor, faltando um mês para a eleição, é muito pouco para animar o campo bolsonarista.

Quando se considera apenas os eleitores com alguém em casa recebendo benefício do governo federal, Lula mantém rigorosamente o mesmo índice da pesquisa da quinzena anterior, 52%. Vale lembrar que os governistas previam uma disparada de Bolsonaro já nessa altura da campanha, o que ainda não se refletiu nos números. Um sinal amarelo está aceso e não é por acaso.

Quando as tropas de Napoleão invadiram a Península Ibérica, tinham na liderança seu homem de confiança, o general Jean-Andoche Junot. Em 1807, uma das primeiras cidades lusitanas a cair sob o controle francês foi Abrantes, na região do Médio-Tejo. Ali nasceu a expressão irônica que zombava da aparente tranquilidade gerada pelo novo governo: "tudo como dantes no quartel d’Abrantes". A frase também era uma autocrítica, já que os lusitanos não ofereceram muita resistência às tropas napoleônicas. O próprio rei D. João VI havia fugido, com toda corte, para o Brasil.

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A estabilidade nos números das pesquisas, mesmo com tantos cartuchos queimados pelo bolsonarismo, começa a diminuir o leque de opções dos seus estrategistas neste momento. O movimento atual é apostar todas as fichas no antipetismo, concentrando fogo nos casos de corrupção dos tempos lulistas, na tentativa de aumentar seu índice de rejeição e viabilizar o segundo turno, visto como uma nova eleição.

Todo presidente brasileiro que tentou se reeleger foi bem sucedido, considerando os pleitos a partir de 1989. Ao mesmo tempo, nas oito eleições presidenciais após a redemocratização, todos os candidatos que terminaram na liderança no primeiro turno conseguiram vencer. É um copo meio cheio e meio vazio.

Bolsonaro parece com poucas ferramentas à disposição, o que não é nada bom para alguém com seu temperamento e com o controle que exerce sobre muitas mentes do país, muitos investidos na ideia estapafúrdia de que há uma "batalha espiritual do bem contra o mal". Nestas horas que, como disse a ex-presidente Dilma, se faz o diabo para vencer. E quem paga a conta é quem mora no inferno.