Fonte: cidadania.gov.br

A fim de medir este efeito, construí uma nova métrica de desemprego. No meu cálculo, considero desempregadas todas as pessoas em idade ativa que não trabalham. Este conceito inclui tanto aqueles que querem trabalhar e estão de fora do mercado de trabalho, como aqueles que optam por não trabalhar, como os que vivem de benefícios do governo ou de renda da família. 

Por essa métrica, a taxa de desemprego no Brasil seria atualmente de 41%. Isso significa que há 72,8 milhões de pessoas em idade para trabalhar, e não trabalham no Brasil.

Desemprego (pessoas que não trabalham/PIA)

Elaborado pelo autor com dados do IBGE.

Neste conceito ampliado de desemprego, de fato, a taxa de desocupação recuou no Brasil. Antes da pandemia, a taxa estava em 43%, e agora, em 41%. Os dados mostram que há um aquecimento no mercado de trabalho. Agora, se esse aquecimento é mérito do governo, é outra história. 

Percebe-se pelos gráficos que a queda da taxa de desemprego já ocorria no governo Bolsonaro, indicando uma tendência de recuperação no mercado de trabalho antes mesmo de Lula assumir.

Taxa de desemprego

Elaborado pelo autor com base no IBGE.

Basicamente, duas razões estruturais, que nada têm a ver com o governo Lula, explicam o recuo do desemprego. 

A primeira foi um dinamismo maior do que o esperado na recuperação do setor de serviços no pós-pandemia. Esse fenômeno não ocorreu apenas no Brasil, mas em vários países do mundo. Após 2 anos de restrições sanitárias, a demanda por serviços explodiu, aquecendo o setor, o que demandou muita mão de obra, reduzindo o desemprego. 

O segundo motivo foi a reforma trabalhista aprovada no governo Temer, com impactos favoráveis e permanentes no mercado de trabalho nos anos posteriores à implementação da medida, segundo apontou um estudo do Insper.

Outro fator estrutural capaz de explicar o aumento do emprego foi o maior aquecimento no mercado de trabalho por conta de aplicativos de transporte e locomoção. 

Esses aplicativos possibilitaram que milhares de pessoas desempregadas, inclusive de diversas áreas de formação, pudessem trabalhar rapidamente e compor a sua renda, seja com entregas ou dirigindo os aplicativos de transporte. Esses aplicativos trouxeram uma verdadeira revolução no mercado de trabalho e nas relações trabalhistas.

Por fim, a queda no desemprego pode ser explicada pela elevação do gasto público proporcionalmente ao PIB. O governo tem buscado induzir o crescimento econômico via elevação de gastos diretos e subsídios em taxas de juros e impostos. 

No entanto, essa política, embora traga benefícios de curto prazo pelo aquecimento da atividade econômica, traz consequências negativas a médio e longo prazo, inclusive colocando em xeque toda a sustentabilidade do emprego atual. 

De outro modo, o elevado gasto público traz consequências para a inflação e para a piora das expectativas dos empresários, levando posteriormente a um desaquecimento da atividade econômica e elevação do desemprego.

Inclusive, essa fórmula já foi adotada no Brasil durante o governo Dilma. Durante o seu mandato, a política fiscal começou a se deteriorar, levando a uma forte desaceleração da atividade econômica em 2014. Naquele ano, o desemprego também estava bem baixo, em 6,6% (dezembro de 2014). 

No entanto, com a desaceleração da atividade econômica, decorrente dos problemas fiscais, o desemprego evidentemente aumentou rapidamente nos anos seguintes.

Aparentemente, conforme já escrevi em outros artigos, a história se repete. Primeiro, vem a piora fiscal. Depois, os impactos na inflação e na desaceleração da atividade econômica decorrente do enfraquecimento das contas públicas. Por fim, a piora das variáveis de mercado de trabalho, consideradas retardadas ao ciclo econômico, devido aos custos de issão, demissão e treinamento.

Se isso ocorrer, já sabemos quem será o culpado pelo aumento do desemprego. 

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Conteúdo editado por: Aline Menezes

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