Essa atividade permitiu, de um lado, que o MPF fosse subsidiado pela Receita com importantes provas e informações, fundamentais para que complexas operações de lavagem de dinheiro viessem à tona e seus autores fossem responsabilizados criminalmente.
De outro lado, essa atividade ensejou que informações, provas e documentos obtidos pelo MP ao longo das 62 fases da operação deflagradas fossem compartilhadas com a Receita. Como resultado, apenas as autuações fiscais relacionadas à Operação Lava Jato já somam mais de R$ 24 bilhões, sendo que 40% desse valor já ingressou nos cofres públicos via pagamento à vista ou parcelamento de débitos.

Essa é a essência de uma força-tarefa, a união de vontades, habilidades e atribuições direcionadas a um fim, no caso específico, ao combate à criminalidade sistêmica, a partir do intercâmbio legal de informações.

Vivemos um momento de reação contra a ação anticorrupção dos últimos anos. Existe uma campanha difamatória em curso. Investigados influentes que se encontravam acuados avançam contra as investigações.

A marcha do retrocesso engloba criminalizar a atividade legítima dos agentes da lei por meio de um projeto contra supostos abusos de autoridade, impedir o compartilhamento de informações entre órgãos, proibir a prisão em segunda instância, mudar as regras da colaboração premiada e afastar e punir servidores públicos que trabalharam na operação.

A omissão é um ambiente fértil para o sepultamento das iniciativas anticorrupção dos últimos anos. Silenciar, neste momento, também é decidir. É deixar que seja destruído o que se construiu. É deixar que se impeçam novos avanços.

Seguiremos cumprindo nosso dever, com esperanças de que a instituições e a sociedade brasileira, maior interessada nesta conjuntura crítica que definirá seu futuro, assegure a marcha que se iniciou na direção de um país mais justo.

* Orlando Martello, Paulo Roberto Galvão e Roberson Pozzobon são procuradores da República integrantes da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. Esse texto foi publicado originalmente no blog do Fausto Macedo, no jornal O Estado de S. Paulo.

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