Na época, Marçal Júnior era secretário de Planejamento na gestão Rangel, em Ponta Grossa, e foi o responsável pela condução da concorrência pública 17/2013, aberta para a escolha da empresa responsável por tirar a obra do papel. A vencedora da licitação foi a Valor Construtora, que em 2015 acabou sendo pivô da primeira fase da Operação Quadro Negro, em função de outros contratos que ela mantinha com o governo do Paraná.
Na narrativa do MP, houve uma série de irregularidades na concorrência pública, incluindo direcionamento à Valor Construtora – os denunciados teriam atuado para que a empresa de Eduardo Lopes de Souza (hoje delator no âmbito da Operação Quadro Negro) saísse vencedora do certame.
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Plauto Miró, de acordo com a denúncia, teria negociado o resultado da licitação, sob a promessa de que receberia 5% do total do contrato firmado entre o Município de Ponta Grossa e a Valor Construtora. Ainda de acordo com o MP, para interferir no curso da licitação, o parlamentar teria contado com o auxílio de João Ney Marçal Júnior.
Plauto Miró também é alvo de um inquérito criminal sobre o mesmo tema. Ele já negou ter recebido propina.
O político também diz que não atuou para favorecer a Valor Construtora no processo de licitação em Ponta Grossa. Quando a ação civil pública foi proposta, o parlamentar divulgou uma nota, na qual ele alega que “já prestou os devidos esclarecimentos sobre o assunto para o Ministério Público, e somente se manifestará sobre o fato perante o Poder Judiciário”.
O MP relata que, na sessão de abertura e julgamento das propostas da concorrência pública, apenas duas empresas apresentaram envelopes: além da Valor Construtora, a Dang Construtora de Obras. A primeira, além de não estar presente no ato, foi inabilitada. Assim, a Valor Construtora terminou vencedora com proposta de R$ 4.756.831,30, exatamente o valor máximo previsto no edital de licitação.
O MP afirma que a delação de Eduardo Lopes de Souza, dono da Valor Construtora, deixa claro que o número reduzido de concorrentes e a proposta oferecida pela Valor Construtora (no limite máximo estabelecido no edital de licitação) são “fatores que ultraam a esfera da coincidência, da legalidade e da boa-fé”.
Em entrevista à Gazeta do Povo nesta quarta-feira (3), Marçal Júnior disse que o MP faz “uma ilação”, se utilizando “apenas da palavra de um delator”. Também enfatizou que se trata de “um erro” vincular o caso de Ponta Grossa com a Operação Quadro Negro, já que a obra de Ponta Grossa estava sendo executada normalmente. “Era uma situação diferente. Acho que a Valor Construtora nem recebeu o valor do que ela executou”, comentou ele, em referência ao modus operandi da empresa em outros contratos que manteve com o governo do Paraná, no primeiro mandato de Beto Richa (PSDB) – a Valor Construtora desviava o dinheiro que recebia do Estado a partir de informações fictícias sobre a evolução da obra.
A Gazeta do Povo ligou para o celular do presidente da Alep, Ademar Traiano (PSDB), na tarde desta quarta-feira (3), mas não conseguiu falar com ele. Traiano também é alvo de inquérito criminal aberto no âmbito da Operação Quadro Negro, e tem repudiado as suspeitas. Via assessoria de imprensa, Plauto Miró informou que não caberia comentar a recondução de Marçal Júnior ao cargo de diretor financeiro, já que as nomeações são uma prerrogativa do presidente da Casa.