Ele salienta, ainda, que, mesmo que menos vulnerável, o número de óbitos também pode ser subdimensionado, “por falha na identificação de caso, limitação na sensibilidade dos testes, que podem dar resultados negativos mesmo quando há doença e, em um contexto de colapso do sistema de saúde, a impossibilidade de atendimento ao caso grave, que por falta de vagas não tem oportunidade de ser notificado e investigado”. 6a1563

O médico aponta que a forma como as autoridades em saúde monitoram a situação da pandemia, então, é com base na taxa de reprodução da doença (Rt). A Rt basal do coronavírus é de 2,5, o que indica que uma pessoa infectada contamina, em média, outras 2,5 pessoas. Citando que o objetivo é atingir um Rt abaixo de 1, quando uma pessoa a a contaminar menos que uma outra pessoa, o que causaria a diminuição de casos novos da doença, Almeida diz que há quatro formas de se atingir essa meta: imunidade, redução do período de transmissibilidade da doença através de medicações, redução do número de contatos pessoais dos infectados e a redução da possibilidade de contaminação na relação entre pessoas.

“Como não há vacina, a única forma se se imunizar é contraindo a doença (o que ainda é discutível). O Rt, então, baixaria de 1 quando 60% da população tiver sido infectada. Considerando uma letalidade de 0,5% a 1,5%, isso significaria a perda entre 1,25 a 3,75 milhões de vidas só no Brasil, uma situação inaceitável, portanto. Como também não há medicação comprovadamente efetiva, é preciso concentrar nas medidas de prevenção individual e isolamento social, até que tenhamos uma vacina eficaz”.

O médico comenta que, se o Brasil tivesse uma política de testagem em massa, poderia usar a estratégia semelhante à da Coreia do Sul de identificar os casos positivos, rastrear seus últimos contatos e isolá-los para evitar que contaminem outras pessoas e, assim, as medidas de isolamento poderiam ser bem menos rígidas que as atuais. “Como não sabemos quem está contaminado e quem não está, é que precisamos adotar isolamento mais rígido e medidas para reduzir o risco de transmissão quando o contato com outras pessoas for inevitável. É aí que entra o uso de máscaras, higienização das mãos, etiqueta da tosse e distância acima de 2 metros. Essa variável depende eminentemente do comportamento individual e, apesar de ser difícil de ser mensurada, tem se mostrado aparentemente eficaz como medida adjuvante”, explica.

No Paraná, segundo estudos da Universidade Federal do Paraná, o índice baseado em óbitos chegou a ficar abaixo de 1, no dia 21 de abril, mas voltou a crescer desde então, chegando a 1,2 no dia 29 de abril, última data analisada até agora pelo estudo. “Se não conseguirmos manter alta a adesão ao distanciamento social e às medidas de prevenção individual, provavelmente entraremos em colapso e termos de implementar lockdown, com todas as suas consequências negativas”, conclui.