Em entrevista após o depoimento de Murillo, Marcos Rogério acabou se contradizendo ao ser lembrado que o Brasil havia fechado – e continua fechando – contratos de aquisição de vacinas antes de sua aprovação pela Anvisa, pois respondeu que nos outros casos foi possível negociar porque os termos do contrato eram melhores. Ou seja, na verdade o impedimento não tinha relação alguma com a ausência de aval da autoridade sanitária. Murillo, no entanto, lembrou que as exigências feitas pela Pfizer são praticamente idênticas no mundo todo; elas foram aceitas, por exemplo, por Estados Unidos e União Europeia, e mesmo o Brasil acabou aceitando-as também quando fechou seu primeiro contrato com a Pfizer, em março. Além disso, elas não diferem tanto daquelas impostas por outros laboratórios – a cláusula de não responsabilização, aliás, foi aceita pela própria Fiocruz em seu contrato com a AstraZeneca ainda em setembro de 2020. x5q6p

Portanto, não é exagero algum falar em omissão do governo federal no caso da Pfizer. O país poderia ter fechado negócio ainda em 2020, o que consequentemente teria acelerado também os trâmites na Anvisa, e já poderia ter aplicado ao menos alguns milhões de vacinas a mais. Vidas perdidas para o coronavírus poderiam ter sido salvas – quantas especificamente, é impossível estimar. Mas certamente estaríamos mais adiantados na busca pelo retorno à normalidade sanitária, econômica e social, um processo que outros países já estão vivendo – inclusive com a ajuda da vacina que o governo brasileiro por tanto tempo recusou.