Uma vez identificado como de direita, você esta alem do argumento, suas visões são irrelevantes, seu caráter é desacreditado e sua presença no mundo é um erro. Você não é um oponente com o qual argumentar, mas uma doença a ser evitada.” (Roger Scruton, Tolos, fraudes e militantes: Pensadores da Nova Esquerda)

Com tais palavras o filósofo conservador inglês Roger Vernon Scruton define a maneira como a esquerda, em quase sua totalidade, enxerga as pessoas que se aproximam mais dos valores proferidos pela direita. Visto isso, é inegável que essa extraordinária e terrível constatação feita pelo filosofo inglês é verídica, uma vez que os umbrais da história patenteiam uma miríade de exemplos, esses que vão desde as acusações infundadas de que os homens oprimem as mulheres desde a Idade Antiga, bem como as loucas teses de que os bens deste mundo são injustamente distribuídos e que a culpa não é da natureza humana, mas sim de usurpações praticadas por uma classe dominante que tem no seu topo o homem heterossexual, branco, cristão e rico.

Em virtude disso, mais recentemente ressurgiu o termo“negacionista” para achacar a direita, insinuando que todos os indivíduos à direita do espectro político negam veementemente o aniquilamento propagado pelo novo coronavírus. Entretanto, todo sujeito honesto intelectualmente sabe que essas incriminações são caluniosas, pois a história, a filosofia e a ciência as desmitificam plenamente. Diante desse óbice contemporâneo, cabe analisar a origem da palavra “negacionista” e os motivos que levaram o statu quo a formular mais um termo para ignominiar a direita.

Em primeiro lugar, é valido destacar que no jogo político difundido por Nicolau Maquiavel a partir do século 16 e adaptado e absorvido em certas partes pelos setores ditos “progressistas” da sociedade, a ética desvinculou-se da política, já que a ética caracteriza-se pelo bem-estar individual ou juntar o saber ao fazer. No entanto, tal preceito fundamental para um debate honesto e construtivo foi e é esquecido diariamente pelo establishment. Como consequência, acusa-se sem provas ou com pouquíssimos indícios todas as pessoas que não compactuam com sua forma de compreender a realidade sociopolítica.

Esse jogo de linguagem vernizado com rótulos diariamente propagados pela esquerda não a de uma ferramenta poderosa de alteração da configuração da sociedade ocidental, pautada nos preceitos da religião judaico-cristã. Para isso vale tudo, até mesmo mentir e fazer generalizações ocas, dado que o importante é a materialização do céu na terra. Diante desse tribunal paraestatal e superior ao formal, o direitista está além do argumento, não importa o que diga ou deixe de dizer. É como o personagem Joseph K., da obra O Processo, do escritor tcheco Frank Kafka, que retrata a longa peregrinação de um jovem que precisa percorrer inúmeros setores sociais para saber quais são os motivos que o levaram a ser processado, difamado e caluniado. O pintor Titorelli o oesta que “é impossível fazer com que pense de outro jeito. Se eu pintasse todos os juízes um ao lado do outro aqui no cavalete, e você tentasse defender-se em frente a eles, teria mais sucesso com esses do que poderia ter com a corte de verdade”.

Analogamente, ocorre o mesmo com os esquerdistas: é impossível fazer com que pensem de outro jeito, visto que a mentira e a distorção da realidade são uma extensão orgânica de seus corpos; logo, os indivíduos da direita terão mais sucesso em sua defesa diante de um cavalete de pau do que em frente ao establisment e seus asseclas.

Em segundo lugar, é preciso ressaltar que o vocábulo “negacionista” surgiu há muito tempo, mas ganhou notoriedade durante o período da pandemia de Covid-19. Em termos gerais, para a imprensa e setores da sociedade – sobretudo, os comentaristas políticos e intelectuais das universidades brasileiras que têm filiação partidária a agremiações mais à esquerda –, negacionista é quem nega a gravidade da pandemia ou/e não acredita no número de mortos e contaminados diariamente, ou seja, são os conservadores ou defensores do presidente da República. Contudo, tais setores utilizam-se de frivolidades baratas, precipitadas e inócuas, haja vista que eles se aproveitam de opiniões impetuosas de pessoas com pouca ou nenhuma instrução formal, consequentemente caracterizando-as como sendo todas de “direita”, sem exceção. Eis o arcabouço lógico deles: se falam disparates e recomendam alternativas dessemelhantes àquelas propostas pela comissão da verdade, por conseguinte, são todos de direita; com efeito, são negacionistas.

Porém, há um erro grave de estruturação argumentativa nessa construção dialética, porquanto existe uma falácia lógica que ocorre quando o tamanho de uma amostra apresentada é pequeno demais para sustentar uma generalização, ou seja: apesar de ser possível que apenas uma amostra represente a população, a amostra torna-se insuficiente para provar a afirmação.

No fim das contas, percebe-se que quem nega a utilização da ciência acerca do debate sobre ideologia de gênero ou o cálculo econômico – formulado por Mises –, bem como quem nega os acontecimentos inquietantes e macabros do Arquipélago Gulag, descritos fielmente por Alexander Soljenítsin, não é a direita, mas a esquerda. Desse modo, percebe-se que há um duplo padrão no julgamento de quem é ou não negacionista.

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Torna-se evidente, portanto, que o termo “negacionismo” não a de um reles estereótipo criado pelo establishment a fim de estigmatizar as pessoas que não estão dispostas a abrir mão de seus direitos naturais e, consequentemente, propõem soluções opostas àquelas impostas pelos infalíveis políticos, que erraram quase tudo até agora. Haja vista que ninguém em sã consciência ignora o poder destrutivo do novo coronavírus a não ser o próprio regime de Pequim, que o fez no começo da pandemia com o apoio da Organização Mundial da Saúde.

Rodrigo Guimarães é estudante de filosofia, ciência política e literatura.

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