Nas capitais brasileiras, enxergamos a coisa pública como lugar por excelência do patrimonialismo. Nos interiores, porém, concursos públicos podem ser vistos como uma conquista pessoal contra o coronel local.
Aqui, vou trazer um causo ilustrativo. Certa feita viajei para o interior, e fiquei hospedada com moradores locais. Quando perguntados, exibiam um vasto repertório de histórias de coronéis e cabos. Tinham a história de um cabo eleitoral pobre, que ganhou muitos brinquedos para dar de presente aos vizinhos, em troca de um cargo no governo.
O candidato foi eleito, e o cabo ficou a ver navios: coronel também dá golpe. Contaram do coronel cuja mulher, caridosa, ou a recolher doações para os vitimados de uma enchente – a fim de acumular as doações, e segurá-las até o período eleitoral, quando seriam dadas de presente em nome do coronel.
Alguns senhores se orgulhavam muito dos filhos que venceram na vida sem ajuda de coronel: só podiam trabalhar nos poucos estabelecimentos privados, todos de posse dos coronéis, até arem em um concurso público numa esfera fora da alçada do coronel, de modo que não baixam a cabeça para amo nenhum. Em algum momento da história do Brasil, a estabilidade do concursado significou um ataque ao patrimonialismo de coronéis locais. Depois, virou mais uma fonte de tirania.
Os guardiões do Crivella revelaram a face de um Brasil velhíssimo, que com certeza se repete longe das câmeras da Globo. Na cidade do Rio de Janeiro, os meios de comunicação não são propriedade privada do governante. Em várias cidades do Brasil, a coisa é bem diferente.
Fiquemos atentos, portanto, e lembremos que mais importante do que o bate-boca dos aspones é o funcionamento do posto de saúde.
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