O trabalho indica que, de 720 milhões de crianças em idade de frequentar o ensino fundamental no planeta, 382 milhões (os 53%) têm aprendizado considerado pobre. Com a pandemia, outras 72 milhões vão entrar nessa categoria, elevando este total a 454 milhões. Ou seja, no cenário mais pessimista, que envolve mais de nove meses de escolas fechadas em países sem condições de entregar bons sistemas de ensino a distância, o indicador global vai saltar dez pontos percentuais, de 53% para 63%. 5b1i2n
No ritmo anterior à pandemia, o Banco Mundial previa que, ao longo desta década, o percentual teria caído para 43%. “Esse resultado vem principalmente da perda de aprendizado, provocada não só pelas aulas que não foram dadas, como também pelo conteúdo que os alunos esqueceram”, afirma o pesquisador. “Educação é um trabalho contínuo, que pode se perder com interrupções”.
O objetivo do estudo, afirma Azevedo, é municiar os gestores da educação para que eles possam atuar, com base em dados, para reduzir o impacto da Covid-19. “A pandemia pode ser uma oportunidade para a construção de um sistema educacional mais eficiente”, diz.
No caso específico do Brasil, o estudo prevê que a pobreza de aprendizado iria aumentar 12 pontos percentuais em relação aos atuais 48%. “Qualquer discussão, neste momento, tem que ar por uma abertura das escolas, com segurança. A carga viral das crianças é relativamente baixa, ainda assim existe o risco de contágio de outras pessoas da família. Muitas escolas têm problemas sanitários, o que torna a situação mais complexa”.
As plataformas de ensino a distância, diz ele, foram implementadas no mundo inteiro, com diferentes graus de sucesso. “Os países perceberam que não basta lançar plataforma, é preciso gerar conteúdo continuamente, para manter o grau de atratividade para as crianças”. O momento, diz o economista do Banco Mundial, é de avaliar e comparar diferentes iniciativas, para selecionar e aumentar o alcance das que se mostraram bem sucedidas.
Além disso, na avaliação de Azevedo, o Brasil tem a oportunidade de usar o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2021 para estabelecer parâmetros de comparação com a edição anterior do levantamento, de 2019, e assim medir com qualidade o impacto da pandemia para a educação do país.
O Ministério da Educação cogita não realizar o Saeb neste ano. “Seria fundamental realizar o levantamento. Esta é uma ferramenta que gera dados que poucos países do mundo têm. As perdas estão aí, são gritantes e precisam ser remediadas com base em informações”.
VEJA TAMBÉM: