Problemas metodológicos 705l26

Há diferenças metodológicas entre os dois levantamentos. Os dados do Novo Caged são informados pelas empresas, por meio de um sistema onde informam o desligamento ou a issão do funcionário no mês vigente. É obrigação das companhias informar todas as movimentações. 583y25

No caso da Pnad, do IBGE, a coleta de informações é feita por meio de questionários junto às famílias, que reportam se estavam ou não empregadas no período de referência, e em que condições. Com a pandemia, a coleta de dados, que era feita por meio de entrevistas presenciais, ou a ser por telefone, e o número de respondentes diminuiu – o que, na avaliação de alguns especialistas, pode ter prejudicado a qualidade da amostra.

Um dos problemas do Novo Caged, segundo o professor Wilhelm Meiners, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), seria uma subnotificação dos desligamentos, por causa de atraso na prestação de informações por parte das empresas. Esse problema, avalia Meiners, pode ter se acentuado com a pandemia, que fez com que muitas empresas fechassem as portas e deixassem de prestar informações ao sistema oficial de dados.

As bases do antigo Caged (vigente até o fim de 2019) e do Novo Caged (com dados a partir de janeiro de 2020) não são comparáveis, diz ele. O professor aponta que a base atual também inclui trabalhadores temporários e bolsistas, que não era o caso da anterior. Com isso, há avaliações de que o retrato do mercado de trabalho feito pelo Ministério da Economia desde o ano ado não reflete o cenário do emprego formal no setor privado com a mesma precisão de antes.

Para Meiners, um agravante é a falta de um órgão próprio para o estabelecimento de políticas para o mercado de trabalho. O ministério existente para tal fim foi incorporado ao da Economia com a posse do presidente Jair Bolsonaro, em janeiro de 2019.

Um impacto da discrepância nos dados ocorre na formulação de políticas públicas para o emprego. “Não há uma certeza sobre o real quadro do mercado de trabalho. E, além disso, nesta situação atual de pandemia, ficamos sem saber o real efeito dela no mercado de trabalho brasileiro”, diz Tobler.

Os impactos da pandemia no mercado de trabalho 54151n

Os momentos de agravamento da pandemia têm efeito no mercado de trabalho. A criação de novas oportunidades de trabalho, embora ainda ocorra, vem diminuindo desde fevereiro, segundo o Novo Caged. O impacto é maior em alguns segmentos de serviços e comércio que dependem de mais circulação de pessoas.

A possibilidade de uma terceira onda de contaminações por Covid-19 e uma nova necessidade de medidas restritivas podem afetar novamente o mercado de trabalho. Meiners, da PUC-PR, afirma que as maiores implicações se dariam no segmento de serviços, mais sujeito ao abre-e-fecha, e que responde por 68,1% do PIB brasileiro.

“A aceleração do programa de vacinação se mostra cada vez mais importante. Enquanto, na balança entre piora da pandemia e efeitos positivos da vacinação, o segundo termo não for mais predominante, ficaremos sempre no risco de impactos no mercado de trabalho”, diz Tobler.

Segundo ele, os programas de apoio ao emprego – como o de redução ou suspensão do contrato de trabalho – se mostraram muito eficientes. “É certo que teve um papel fundamental para atenuar os impactos negativos da pandemia.”

Mas o pesquisador da FGV aponta que a nova rodada do programa de redução ou suspensão do contrato de trabalho foi instituída somente no fim de abril, com atraso em relação ao agravamento da pandemia. Quem mais vem se beneficiando do programa é o setor de serviços, justamente o que mais vem sofre os efeitos da crise: bares e restaurantes, serviços pessoais, atividades turísticas, hotelaria e transporte aéreo.

Mais de 2 milhões de trabalhadores com salário reduzido têm estabilidade provisória 6t673s

Um dos fatores que pode estar contribuindo para o bom desempenho do mercado formal capturado pelo Novo Caged é a garantia provisória de emprego concedida aos trabalhadores enquadrados no Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, instituído no ano ado como ferramenta de combate aos efeitos da pandemia na economia, e reeditado em abril deste ano.

No programa, os trabalhadores com jornada de trabalho e salário reduzido ou contrato suspenso recebiam um complemento de renda pago pelo governo, conhecido como BEm. Além disso, têm direito a estabilidade de emprego por alguns meses.

Neste momento, segundo estimativas do sistema Dataprev divulgadas pelo Ministério da Economia, 2,225 milhões de trabalhadores estão protegidos por essa estabilidade. Boa parte deles foi incluída ainda na primeira versão do programa, em 2020.

A visão do governo 1z5y1

O governo descarta que haja problemas com as estatísticas referentes ao mercado de trabalho. A Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia afirmou, na entrevista coletiva de apresentação dos resultados do Caged de abril, que os dois levantamentos – Caged e Pnad – não têm comparação, mas que ambos são consistentes.

Segundo o órgão, o Caged é um registro istrativo baseado em informações fornecidas pelas empresas e a Pnad é uma pesquisa por amostragem. “Não existe apagão de dados no mercado de trabalho”, disse, na ocasião, o secretário de Trabalho, Bruno Bianco Leal.