Em relação a tempo perdido, o presidente da Abag traça um paralelo com o desenvolvimento da Argentina. Apesar de muita gente enxergar a estagnação do país vizinho, a realidade brasileira não seria muito diferente. Um estudo da MB Associados mostra que, nos últimos 20 anos, o Brasil teve crescimento real de 53% e a Argentina, de 45%. “Em determinados momentos de ideologia, como foi o momento da Dilma, o Brasil literalmente perdeu o ângulo de crescimento, voltou para baixo e acompanhou a Argentina. Essas posturas internas atrapalham muito”, observa. 4a3669
Ajustando o foco para o ano de 2024, novamente são as atitudes do governo que acendem luzes de alerta. “Tudo isso é muito preocupante, principalmente quando temos um mandatário preocupado com a sua imagem, preocupado em achar uma forma de fazer o arroz e não sei mais o que ficarem mais barato. São coisas muito populistas, com fórmulas já testadas e reprovadas. Você faz uma bobagem dessa e depois paga por dez anos à frente”, diz Carvalho.
Seria o momento de redobrar a atenção na condução diplomática da inserção global do agronegócio brasileiro. O congresso da Abag pretende debater qual a melhor postura diante da polarização crescente e divisão do mundo em blocos de influência geopolítica, liderados antagonicamente por China e Estados Unidos.
“Não vejo outro caminho que não seja o de mantermos a nossa tradição do ponto de vista diplomático. Sabermos aproveitar o que temos de especial dos EUA, inclusive o conceito de democracia, de mercado e de liberdade", diz o dirigente da Abag.
"Ao mesmo tempo, temos o incrível mercado asiático, com países muito distintos que nos interessam, como é o caso do Japão, com o combustível de aviação, e a China, com grãos e agregação de valor, biocombustíveis e outros produtos de alimentação. E a própria Europa, com a tentativa de discussão de um acordo que, na verdade, até dê a eles um pouco mais de segurança alimentar do que aquela que eles já têm”, emenda.
Dentre barbeiragens a ser evitadas, Carvalho cita dois exemplos: “O governo anterior quase entrou na armadilha envolvendo Israel e os árabes, escolhendo Israel e se esquecendo que o grande mercado é o árabe. E aí você tem atualmente essa conversinha com o Brics e com a China. São armadilhas soltas, são cascas de banana que nos deixam muito assustados”.
No relacionamento com a Europa, Carvalho diz estar seguro de que o bloco deve adiar o início de suas novas regulações ambientais, marcado para 1º de janeiro de 2025.
“Particularmente temos certeza de que eles vão ter que adiar isso, é um pedido formal dos Estados Unidos. Então, eles vão ter que adiar, vão ter que rever uma série de coisas que o agricultor da União Europeia não está aceitando, e vão ter que se compor numa lógica de pressão. Por que, apesar de todas as dificuldades, a Organização Mundial do Comércio (OMC) está viva, é formal, e é um campo de grande discussão que o Brasil talvez ainda venha a utilizar com o apoio de uma série de países”, conclui.
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